quinta-feira, 29 de novembro de 2018

livros independentes





Em 2018, enfrentei o desafio das publicações independentes: livros artesanais, folhetos e brinquedos de papel, lançando ao todo dez títulos. Estes projetos envolvem poesia, conto, folclore e costuras teóricas. Para conhecer, dê um pulo no site 2noTelhado.wordpress.com que divido com a Suryara.

Nós participamos de seis eventos durante este ano: PrintA-Feira I FestA!, Feira YOYO no Sesc Belenzinho, Feira [SUB] em Campinas, Feira Miolo(s) 2018, PrintA-Feira II e Feira YOYO no Sesc Taubaté. Acompanhe a nova agenda!


PALESTRA




PRESS-RELEASE

Suryara e Peter são os 2 no Telhado: ela é ilustradora e ele escreve, mas às vezes ela escreve e ele ilustra. Dedicam-se aos livros artesanais, livros-cenários e brinquedos de papel costurados manualmente após a impressão. Gostam de poesia, adivinhas e contos de esperteza. Seus livros, pôsteres e adesivos são habitados por animais que correm, voam, falam, e seres imaginários como o ciclope, o diabo azarado e o bicho-papão. O livro do Bartolo Burtopelo foi o primeiro trabalho que fizeram em conjunto, em 2016.



sexta-feira, 10 de agosto de 2018

A primeira Bienal do Livro do João


E Jesus, quando menino, também tinha medo de bicho-papão? Esta é uma pergunta que eu poderia ter feito antes de abrir o livro e ler alguns poemas. Mesmo num jogo bastante rápido de mobilizar conhecimentos, numa situação informal de leitura, é notável que as crianças não tenham dificuldade para pensar que Jesus teve uma infância própria. E brincava? Sim, de pega-pega e esconder foram as brincadeiras mais “recordadas”, mas também de carrinho e rolar na lama na beira de um riacho após uma madrugada chuvosa... O que demorou um pouco mais para imaginar foi alguma brincadeira de manualidade, com as mãos: moldar objetos ou bichos com barro, como se brincava de argila, como se brinca de massinha colorida.


Não é fácil ler poesia em meio ao barulho de uma feira, mesmo sendo uma feira de livros! Porém um, dois, três olhares já compensam o esforço – e comprovam e também ensinam o quanto a literatura é ainda uma arte de abraços invisíveis através dos ouvidos... Perguntei às crianças se era possível se lembrar do dia que nascemos, onde elas estavam antes: na barriga, no útero, na "pança" de nossa mãe. E antes? A imaginação aponta o céu como um lugar – simbólico, sim, teológico, talvez. E o que fazíamos no ventre ou no alto do espaço? Dormíamos, éramos alimentados... Quem dorme, sonha? E aqui estou eu na abertura do livro com o poema “Entre os sonhos do João”.

Foram seis pequenas turmas escolares de crianças entre 5 e 11 anos que visitaram o estande da Paulinas Editora, nesta última quarta-feira, 8 de agosto, durante a 25a Bienal Internacional do Livro de São Paulo. Fotos do Marco Asa.


Uma noite para João e outros poemas nas mãos de quem faz um livro voar. Esta é parte da equipe de divulgação, vendas, marketing, junto do editorial de literatura da Paulinas Editora. Reginaldo, Celmo Carlesso, Rodrigo, Zé (meu parceiro de Lavra-Palavra), irmã Goretti Oliveira, Rosângela Luchesi, irmã Cátia Cappellari. E cadê a Luciana Sales?

Veja e leia 5 poemas ilustrados por Sandra Jávera para leitura na tela...

E [aqui tem um conto] com três papões procurando o Menino Jesus!

quarta-feira, 4 de julho de 2018

Ai, de mim!


Bartolo Burtopelo 💗 migalhas, 💗 quem vive delas, como as formigas, 💗 o canto da cigarra e 💗, enfim, quando elas se juntam num só lugar para contar histórias... Ai de mim, alegria ouvir os comentários da Daisy Carias!



O livro foi lançado na época que iniciamos o coletivo, em 2016, mas Suryara e eu escolhemos seguir por outro caminho: agora somos 2 no Telhado, quando participamos de algumas feiras de publicações e pequenas editoras.

segunda-feira, 4 de junho de 2018

Autor destaque

Portal Paulinas


Peter O’Sagae nasceu em Marília e atualmente mora em São Paulo, onde veio para estudar, em 1988, na Escola de Comunicações e Artes da Universidade de São Paulo. Mas desistiu do curso de Publicidade e Propaganda, após dois anos, recomeçando com Rádio e Televisão, incluindo em seu currículo aulas de literatura infantil da Faculdade de Letras. Fez estágio na Rádio Cultura FM e, em dezembro de 1990, estreava como produtor e roteirista da série Opus Um: música clássica para crianças, escrevendo e adaptando histórias para obras de Ravel, Mussorgsky, Villa-Lobos, Meschwitz, Vivaldi... Já o ano de 1993 foi significativo: com o ciclo No Balanço do Balaio, introduziu canções folclóricas e poesia infantil na grade de programação da emissora. Descobriu, em meio às atividades de assistente e, depois, produtor, a magia de desenhar na mente dos ouvintes com música, palavras e ruídos; criou audições radiofônicas para comemorar os aniversários de Antoine de Saint-Exupéry, Chaplin, os 20 anos do Teatro Ventoforte, o Dia Mundial da Criança do Unicef. Em outra oportunidade, em 1997, desenvolveu a série Sonhamundo para a Rádio USP.

Encaminhando-se para os estudos de literatura comparada, concluiu mestrado em 1998 e doutorado em 2008. Foi professor de letras, pedagogia e comunicação; ministrou cursos e oficinas para formação de professores de língua portuguesa e mediadores de leitura; colaborou como assessor técnico-acadêmico do Programa Nacional do Livro e Leitura – PNLL, entre 2006-2009. Já nas questões do livro para crianças e jovens, atuou frente ao mercado editorial como tradutor, leitor crítico e consultor; foi jurado do Prêmio Jabuti, Barco a Vapor e Prêmio Brasília; colaborador de diversas listas da imprensa e resenhista da Bibliografia Brasileira de Literatura Infantil e Juvenil da B.I.J. Monteiro Lobato.

Exatamente há 25 e 20 anos, conquistou duas distinções importantes relativas às suas primeiras atividades: o Prêmio de Rádio da VI TRIMALCA – Tribuna de Música para a América Latina e Caribe 1993, incentivo do Conselho Internacional de Música – UNESCO, pelo programa O boi e as paragens do bumba, na categoria de música étnica e raiz folclórica; e o Prêmio Esther Scliar de Educação Musical, concedido pela Escola de Música Villa-Lobos do Rio de Janeiro, em 1998, pelo artigo O texto musical, escrituras do tempo... leituras. Venceu uma edição do Concurso Leia Comigo promovido pela FNLIJ, em 2005, com o relato Linha a linha, Yolanda entrelaça.

Dos projetos pessoais, idealizou os portais O Caracol do Ouvido (1998-2005) e Dobras da Leitura (2000-2012), reduzindo este à divulgação como Dobras da Leitura O’Blog. Com as mudanças na cena editorial, nos últimos anos, Peter vem empregando mais tempo à própria criação e à tutoria literária, principalmente através da oficina Escrever para Crianças, de onde surgiria o coletivo BabaYaga, atento ao circuito de produção impressa independente.

Tem assim publicado Bartolo Burtopelo, ilustrado por Suryara (conto de esperteza, 2016), Admirar não é segredo, com poemas dedicados à escritora e ilustradora Angela Lago, e, na sequência deste 2018, três títulos que resgatam brinquedos falados e cantados do nosso folclore: Com quem vai casar a Dona Pepitinha? (parlenda), Pé de cantiga, pé de passarinho (quadrinhas) e Ah, essa eu sabia! (livro de adivinhas comemorando o trabalho pioneiro de Veríssimo de Melo). Para o final do ano, Quitéria vai à guerra, pela editora Solisluna.

Todos esses caminhos reverberam afetivamente no livro Uma noite para João e outros poemas, com ilustrações de Sandra Jávera, publicado por Paulinas Editora, que recebeu em 2017 o selo Seleção Cátedra 10, concedido pelo Instituto Interdisciplinar de Leitura da PUC-Rio e pela Cátedra UNESCO de Leitura.


Online: https://www.paulinas.org.br/editora

sexta-feira, 20 de abril de 2018

Ler não é quase ler. *

Peter O'Sagae


Ler é um compromisso de estar junto ao texto. Ao outro. Concordando ou não em suas ideias, sua maneira particular de apresentar-se ao olho e ao coração do leitor. Ler é estar bem ao pé da letra, e investigar palavra a palavra o que há de ver atrás de uma cortina que se impõe à janela. Quase ler, contrariamente, é fingir umas tais amenidades de uma paisagem que não existe e manter-se alegre, ou mesmo grave, por acreditar que fora alcançado o que não se leu. Ler não é quase ler.

Quase ler é estar muito brevemente com os homens, as mulheres, os trabalhadores, os velhos e também as crianças e por fim os poetas. Ao exercício de quase ler nada importa, por amor ou por ódio, nada importa. Outro texto virá e, de um jeito igualmente breve, quase ler não abraçará o tronco, nem verá um ninho com irregulares ovos num galho entre as folhas daquela árvore que não existe na paisagem através da janela.

Ler não tem pressa e assim enrodilha-se por toda uma tarde no passado e no futuro, certo que o presente não o compromete de urgências banais. Ler cria o próprio tempo, o que faz muito honestamente, manhã quente ou fria antecipando a tarde ou, prolongando-a, noite de intensa preocupação com as canções que adivinha na espera daquele pássaro além. Suspeita-se algo. Quase ler apenas dorme o que julga ser o sono dos justos, mas não é.

Neste lugar sem sonhos, quase ler desperdiça a temperatura do fruto e a voluptuosidade do perfume de novas histórias. E as flores que a tudo antecipam, antecedem? As flores entre as folhas de um livro onde se desenham pássaros, com palavra e pena, que pena! estas flores quase ler esquece, agorinha mesmo deixou escapar...

Ler perturba a natureza. Destranca a paisagem desde o primeiro parágrafo, afastando o tecido leve da cortina, erguendo acaso a vidraça que possa parecer ainda transparente ante suas mãos. Ler sabe que o caminho até a árvore fora ajardinado de pontuações e pausas – pausas diversas no trabalho duro que fez a paisagem vestir-se de diferentes meses. E messes.

Ler uma vez entende assim. Ler outra vez entende de outra maneira. E questiona se algo ali modificou lentamente a paisagem que havia atrás da janela, sempre nova, à espera do pássaro. Seu canto terá um acento fechado ou agudo? Ler sabe que é preciso reler. Às vezes a paisagem parece existir impressa na cortina e a menor oscilação do vento lhe traz uma dúvida... Mas quase ler não a tem, nenhuma.

Quase ler não gosta de perder tempo. Anda mais feliz nas respostas seguras, sem toques de sutileza. Quase ler faz de conta que leu e quase acredita que lá houve certo voo, enquanto lança ao texto um peso preconcebido de certezas que não são nem suas, muitas e muitas vezes. Nenhum pássaro, nenhum texto resiste a uma leitura desdenhosa, e é esta a verdade atrás da paisagem onde os buliçosos não ouvem a própria voz.

Humildemente, ler aceita um texto naquilo que o texto parcamente possui. Ora, é preciso ser generoso com as estações para ser humilde. E confiar que a árvore não mais floresce na paisagem da janela, nem sobre o tecido fino da cortina. Porém, talvez, quem o dirá – com amor –, a árvore estampou-se no canto do pássaro.

Quase ler não tem paz, porque, conclusivamente, jamais sentiu um tremor dentro em si. Ao que parece, ler estala qualquer minúcia e a respiração altera-se. É diferente. Porque ler não se conforma, ler não se amofina. Revoluciona. Agita os cílios da alma e já as mãos afastam a cortina novamente transfigurando som em visões e estilhaços de imagem em narrativas. Ler não ri das comédias, ler compassivamente ri das tragédias. Quase ler não compreende o estranho fato e desconfia que ler tornou-se loucura, desnecessidade tamanha. Quase ler não pensa em pensar algo para si: uma casa, um sapato, um instrumento, porque essas coisas encontra e toma-as todas prontas. Ou quase.

Ler é um desperdício de tempo, assevera.
Ler é um desconhecimento só, ninguém ensina.
Ler, no entanto, replica: aprende-se.
É uma forma de respirar.



* Este texto me foi motivado pelo texto de José Luís Peixoto, chamado “Aspas”,  publicado em 6 de abril de 2018, donde retiro a cada parágrafo uma frase, em paráfrase, numa atitude de escrita feita em ecos. Uma ideia é uma pedra. Na superfície líquida de nosso tempo. Cf. http://www.joseluispeixoto.net/aspas-142525

Primeiro o texto verbal, depois a busca de uma imagem. Voltei a vários tipos de janela com paisagem de Rene Magritte, preferindo, no entanto, “O modelo vermelho” de uma série de outros quadros pintados na cidade de Bruxelas, nos anos de pré-guerra e guerra. Esta tela – Le Model Rouge (1935) – encontra-se no Centro Georges Pompidou, em Paris.