domingo, 10 de março de 2024

Angela Lago e Beatrix Potter

dobrasdaleitura | continuando a pesquisa para meu catálogo de gestos, na companhia de Angela Lago, e lá vem, lá vai uma postagem (à esquerda, marginal) aos temas que me interessam...

“Se escolhermos dentro da literatura para crianças o exemplar
livro The Tale of Peter Rabbit, de Beatrix Potter, o desenho cobre, do princípio ao fim, cada trecho da narrativa. A criança que não sabe ler seguirá pelas imagens a mesma história que a que ler o texto destituído dos desenhos. Há uma linda não complexidade em B. Potter, que gostaria de elogiar. Devo ter gosto em ser advogado do diabo. Mas percebam que, afinal, é essa não complexidade que permite ao leitor iniciante ter um mapa da leitura à sua frente, o que pode ser providencial nesse momento. Essa criança que ainda lê soletrando, tem dificuldade de memorizar o conteúdo. A imagem, ao espelhar o texto, lhe devolve o sentido do que foi lido (…)

Mas será que essa aparente e tão difícil simplicidade, essa proposta pedagógica, com todos os arrepios que a palavra provoca nos literatos, é destituída de complexidade? Os ilustradores vêm lutando por uma independência que permita um diálogo com o texto, um contraponto, onde a criatividade articule a conjunção. Mas será que diálogo e contraponto não existiriam de qualquer forma, até mesmo em um livro em que tentem se espelhar, na medida em que são duas vozes de dois substratos tão diferentes?”

Angela Lago.
Entre histórias, traços, cores e formas.
Entrevista concedida a Lourdes Guimarães.
Literartes, n. 3, p. 16-32, 2014.

🦔

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