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Ao traduzir o nome dessa intrigante personagem, poderia escolher os caminhos da tradução literal ou uma tradução criativa, literária. Se privilegiasse o significado, teríamos Tiggy ou Antígona Piscada. Ou Piscadela? Piscadinha? A narração, no entanto, me dava uma pista, ao caracterizar a lavadeira em suas reações repetidas tímidas e curiosas: her eyes went twinkle, twinkle. Ao abrir e fechar os olhos, algo aí brilha e cintila. Daí, me desviei para uma brincadeira com o significante, ouvido colado no trocadilho = T/iggy/WINKLE e busquei palavras que pudessem ser decompostas... Tiririca? Um ouriço até pode lembrar aquela planta espinhenta que enrosca e arranha as pernas, quando se entra no mato. Ainda considerei a onomatopeia OINC, UINCO – e ela quase ficou sendo Tiggy-Junquinho, outra herbácea.
Mas havia esse jogo: desde a capa, os pequenos leitores sabem que a personagem é um sorridente ouriço, com as roupas atravessadas por espinhos. Apenas Lucie (tolinha) não vê — parte do segredo do humor da narrativa. Em diferentes países, tal particularidade é destacada no título, como Boneca de Espinhos, Madame Piquedru, Senhora Bigarilla etc. E se tivéssemos uma Tiggy-Grampinho? Ora, Beatrix Potter construiu uma história em ritmo de lengalenga, aproveitando inúmeras parlendas tradicionais, além de ser uma autora afiada em trava-línguas... E, num giro, cantarolei: eu te pego, te pico, Tiggy-Tipico! É isso, é ela!
Cena do filme The Tale of Beatrix Potter, com a atriz Penelope Wilton (1983). 🦔
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