sexta-feira, 7 de janeiro de 2011

7 chavões para o Dia do Leitor


Ao longo do trabalho desses anos todos, seria inevitável não bater com algumas ideias sobre os apuros e as incertezas do leitor. O prazer de ler é para mim uma decorrência, um efeito durante ou duradouro, findo o que nos foi dado pelo texto. E hoje, Dia do Leitor, retiro do baú sete circunstâncias que traduzi numa linguagem de jargão, lema ou aforismo para aulas, palestras, oficinas, a cada instante que sentia o dever de negociar conceitos sobre o que é (e como) ler, especialmente um texto lúdico e literário. Reencontro esses improvisos nas anotações para cursos de literatura infantil, semântica e estilística, semiótica do texto... Reencontro agora a imagem dos meus pensamentos na tela de Albert Anker, 1893. Será que você também os vê?


Ler é despertar o texto do silêncio. Rotineiramente, na prática da leitura em voz alta, mania que vem do rádio, do gosto por áudio-ficção, pela necessidade de ouvir canções. Ou mesmo através de nossa imaginação sonora. Vozes chovem na mente de quem lê, tão ou mais límpidas que nos ouvidos de quem ouve. Cada texto tem um tempo para ser pronunciado, o ritmo e a respiração do autor. Na prosa, na poesia. Ler é buscar o diferente. Porque já estou em relação com o outro e os outros. Na leitura literária, vale o estranhamento sobre aquilo que não fui, nem serei, onde não estive, nem chegarei, não fosse aberta uma passagem meio às letras (e das ilustrações também). Ler é trabalho. Atividade intelectual, uma enxada, uma dificuldade, um contrato sem direito a férias antecipadas. Somente depois de consumidas suas forças, virá o voo, a viagem. Ler é reler. Conseqüência: jamais se deixar convencer por uma leitura só do texto. A leitura é a contingência de um jogo de sincronias (no qual, a palavra ‘r-e-l-e-r’ me revela o propósito de ir e vir sobre um texto), num lance não linear. Ler é transar com o texto. Dar trânsito aos sentidos, antes de tomar posse do enredo, personagens, estrofes, aliterações, uma, várias ou interpretação nenhuma. Ler é combinar textos. E não apenas verbais. Ler é desarmar-se. Para viver.

4 comentários:

  1. Só podia ser você, Peter, para traduzir tão bem o ato/fato leitor. Sempre estou à caça de textos assim. Então peço licença para usá-lo em minha oficina com professoras em Campo Largo no início de fevereiro. Abraços.

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  2. Isso me anima, Jaqueline.
    Use e abuse à vontade, obrigado!
    E boa sorte na oficina ;-)

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  3. Olá Peter O'Sagae!
    Sem licença, mas com as devidas referências bibliográficas, biográficas e aos sites, usamos, Ana Helena e eu, seu pequeno grande texto sobre o ato de ler, contido nos 7 chavões, durante formação continuada para grupos de mediadores/as de leitura (estagiários) lotados no PMBFL-Programa Manuel Bandeira de Formação de Leitores e professoras/es do Ciclo 1 - Ano 1, da Rede Municipal de Ensino do Recife/PE. A leitura compartilhada e reflexões foram relevantes para a formação e socialização de vivências de atividades de leitura e escrita nas bibliotecas escolares. (A leitura de imagem na bela tela de Anker, igualmente riquíssima!) Breve postarei as memórias no blog www.construindopasargada.blogspot.com
    Grata!
    Muita paz, sempre! Thelma Regina

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  4. Olá Peter O'Sagae:
    Postei no endereço abaixo as memórias da formação com o grupo de Mediadores/as de Leitura do PMBFL, conforme antecipei no comentário de 17/05/2011, quando usamos seu texto '7 chavões para o dia do leitor', como texto informativo.
    http://construindopasargada.blogspot.com/2011/05/memorias-da-formacao-continuada-de.html
    Aguardamos uma visita no blog.
    Muita paz, sempre!
    Thelma Regina
    (www.thelmaregina.blogspot.com)

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