quarta-feira, 25 de outubro de 2017

Poemas para João

Neide Medeiros Santos – FNLIJ/PB
para o blog Nas Trilhas da Literatura


dorme, meu João, dorme
​​dorme agora sossegado
​​que eu cantarei baixinho
​​para sempre do seu lado.
​(Peter O´Sagae. VII Canção de Isabel)

​Peter O´'Sagae reúne neste bonito livro Uma noite para João e outros poemas (Paulinas, 2017), com ilustrações de Sandra Jávera, quatorze poemas que entrelaçam o nascimento de João, os festejos juninos, canções de ninar e o nascimento de Jesus. O autor transitou com muita naturalidade pelas veredas poéticas, alinhando seu gosto musical com as pesquisas sobre o folclore. ​No seu caminhar pelas veredas da poesia, encontrou uma fada ilustradora que deu beleza aos poemas com seus traços delicados e cores suaves proporcionadas pela técnica da aquarela.

Dispostos em conjunto de dois blocos de sete poemas, eles vêm separados pela ilustração de duas páginas que lembram as bandeirinhas de Volpi. Os sete primeiros poemas estão ligados ao nascimento de João, o festejado santo dos nordestinos. Seu nascimento é celebrado no dia 24 de junho e muito comemorado em todo Nordeste brasileiro. Os outros sete poemas referem-se ao primo de João, o Salvador do Mundo.

​No poema “Canção para Isabel”, poema VII, ecoam vozes de autores de literatura infantil – Maria Clara Machado e Cecília Meireles. ​O cavalinho de Vicente, na peça teatral de Maria Clara Machado, era apenas um pangaré marrom, bem magro, mas para o menino era um lindo cavalinho azul. Com esse cavalinho imaginário Vicente percorre a cidade. ​O cavalinho, no poema de Cecília Meireles, era branco e tinha crina dourada. Descansava entre flores.
​Descansa entre flores, o cavalinho branco. 
​De crina dourada. ​
No poema “Canção para Isabel”, de Peter O´'Sagae, o cavalinho dorme debaixo de véu estrelado. De forma inusitada, o poeta não diz – céu estrelado – o que seria mais comum – mas, “véu estrelado”. ​
A noite varreu as nuvens
​que deixavam triste o céu
​também dorme o cavalinho
​debaixo do véu estrelado
​Para ilustrar esse poema, Sandra Jávera colocou um menino (João), deitado com a cabeça sob um travesseiro e um círculo azulado envolvendo todo o menino. O ambiente onírico do poema se transfere para a ilustração. O branco e o azul estão presentes conferindo um clima de paz e tranquilidade.

​O poeta Manuel Bandeira, na apresentação que fez para o livro “O cavalinho azul”, lembra que a cor azul “sempre foi símbolo de sonho, de ideal, de infinito”. As cores frias, verde e azul predominam nas ilustrações feitas por Sandra Jávera corroborando a afirmativa do poeta Manuel Bandeira.

​Ainda, nas ilustrações, chama à atenção do leitor as delicadas figuras que representam o menino João, o avô e Isabel. Até mesmo as libélulas que enfeitam a parte interna da capa, são delicadas, simétricas, pequeninas. ​

O primeiro poema – “Quem é o menino” – inicia com a inocente pergunta:
Vô, quem é
​aquele menino
​com o carneiro
​na mão?
​E vem a resposta do avô:
Aquele é João.
​O último poema – “O outro menino” – também se inicia com outra pergunta:
Vô, quem era
​aquele Menino
​com olhos de luz?
​E o avô responde com a mesma naturalidade: ​
João, ​
aquele é seu primo
​O menino com olhos de luz é Jesus, que nasceu depois de João. Conta a história que quando Maria visitou a prima Isabel que estava grávida de João o menino exultou de alegria no ventre de Isabel. Maria também estava grávida daquele que seria o Salvador do Mundo.

Uma noite para João e outros poemas é um livro que trata de uma temática religiosa cristã. São textos que vêm envolvidos de muita ternura e sensibilidade. A musicalidade dos versos e a criação de imagens de grande riqueza poética atraem o leitor que fica seduzido por essa linguagem e pelas bonitas ilustrações.

​Para concluir, comprova-se a criatividade poética do autor com a transcrição do poema “III – E foi bem assim”:
quando nasceu
​o menino, Isabel
​mandou acender
​uma fogueira
​no ponto mais alto
​da montanha

​leve e ligeira
​muito branca, subiu
​uma fumaça
​aberta em bandeira
​no pano de estrelas
​bem alto no céu
​Se a primeira estrofe segue uma linguagem denotativa, a segunda apresenta riqueza metafórica.Atente-se para o recurso estilístico do “enjambement”. Que venham outros poemas da lavra de quem lapida as palavras com a mesma sensibilidade poética de Cecília Meireles e de Elias José.

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